quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A controvérsia dos neutrinos superluminais

Recentemente o mundo da física foi abalado por uma experiência do projeto OPERA do CERN em que neutrinos foram detectados viajando numa velocidade mais rápida que a luz no vácuo. Até que ponto uma constatação dessas é significativa?

A maioria das pessoas diria que é muito significativa, pois a experiência está mostrando algo novo. Mas vamos ser céticos quanto a isso por um instante e entender o contexto mais amplo que serve de base a própria física.

Devemos rejeitar a experiência à priori aceitando o postulado de Einstein como verdadeiro por si mesmo ou sermos mais "flexíveis" e considerar que é a experiência que deve decidir quem está certo? Eis a questão.

Na ciência e até mesmo na psicologia essas questões aparecem de tempos em tempos, o dilema entre manter a coerência teórica versus a aceitação de novas informações. Mas esse caso da alegada velocidade superluminal dos neutrinos é exemplar.

Cientistas holandeses contra-argumentaram em relação as declarações dos italianos dizendo que a teoria da relatividade de Einstein sai ainda mais fortalecida com o experimento! Ou seja, na ânsia de confirmar as coisas pelo viés experimental, conseguimos mais a corroboração da teoria do que a sua refutação.

A explicação é curiosa. Segundo Albert Einstein o tempo é relativo, depende do estado de movimento dos relógios. Na experiência dos italianos foram usados GPS como "cronômetros" e não relógios situados em terra. Os relógios do GPS situados em satélites orbitando a terra em alta velocidade medem um intervalo de tempo menor entre a partida e chegada dos neutrinos do que o tempo que seria registrado por relógios estacionários em terra. Esse tempo menor para cobrir a distância explica a alegada velocidade superior dos neutrinos. Isso significa que aplicando a teoria do Einstein corretamente se pode prever que haverá um erro na medição da velocidade das partículas. Einstein está certo novamente.

O postulado de Einstein que estabelece a velocidade da luz no vácuo como limite de velocidade das interações físicas tem o status de uma lei natural. Não é um dogma como muitos poderiam afirmar, mas um princípio básico do universo que se confirma verdadeiro experimento após experimento, cálculo após cálculo.

O mesmo não ocorre com dogmas religiosos ou alegações pseudocientíficas, os dogmas não podem nem ser testados ou formulados em teorias coerentes. Essa é a diferença entre ciência e não-ciência, entre postulados e dogmas.

Sonho um dia em que não apenas na neurociência, mas que na psicologia também sejam adotados princípios mais científicos e através desse expediente muitas teorias possam ser postas a prova para que as boas idéias sejam aproveitadas e as idéias ruins sejam descartadas.

Os resultados da experiência do OPERA, sejam equivocados ou não, fornecem uma excelente oportunidade para a reflexão sobre a teoria do conhecimento e como construímos a nossa ciência e a nossa tecnologia. E que muitas vezes ser cético ou rejeitar o resultado de um experimento não é uma doutrina, mas sim o legítimo espírito científico baseado em teorias dedutivas e princípios gerais, que longe de serem dogmas, são postulados, hipóteses e fundamentos da ciência.

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