quarta-feira, 13 de março de 2019

Música Underground e Criatividade


Atualmente existem diversas maneiras de ouvir música, a maioria delas envolve alguma participação ativa do ouvinte na escolha do repertório, seja organizando a seleção de músicas no seu mp3 player preferido ou no celular, seja escolhendo uma estação de rádio online, por exemplo.

Antigamente, no máximo, podíamos telefonar para uma rádio e escolher a música para ser tocada ao vivo ou então comprar aquele vinil caro de nossa banda preferida e aí escutar sempre a repetição das mesmas músicas.

Que evolução tecnológica em apenas algumas décadas!

Suponha que você queira escutar músicas novas e que deseje encontrar músicas de que goste. O que você faria em primeiro lugar?

O primeiro passo que vem a nossa mente é listar os gêneros de música de que mais gostamos na tentativa de delimitar previamente os estilos musicais,  mas esse passo não é o único que importa. E não resolve o problema inicial, pois podemos sair a caça dessas músicas na internet ou buscar rádios online, plataformas como spotify e last.fm e ainda assim sermos frustrados em nossos objetivos de encontrar coisas novas que nos interessam.

Independente do gosto de cada um, podemos dividir a música não erudita em duas grandes classes:

VANGUARDA (pré-rock e rock)
MODERNA (pós-rock)

Verificamos como o rock pode agir como um divisor de águas na música, ajudando a classificar os diferentes gêneros musicais.

A música de "vanguarda" faz uso de sons sintéticos em pequenas doses ou então não os utiliza, enquanto a música "moderna" faz uso massivo de sintetizadores.

Essa é uma boa ontologia, uma boa divisão racional onde podemos classificar as músicas que gostamos.

Tanto o mainstream quanto o underground podem ser divididos nessas duas grandes classes. Explorar a música underground nessas duas vertentes é o que otimiza melhor o processo de busca e de seleção das músicas.

Nada impede que músicos de hoje se voltem para a estética low fi de antigamente, tentando emular a música de vanguarda, assim como os músicos  do passado se voltavam para experimentações eletrônicas tentando criar a música moderna de hoje.

Bandas atuais como Elephant Stone, Tame Impala, Temples e The Babe Rainbow recriam a mesma sonoridade de uma típica banda psicodélica dos anos 60. E com exceção da banda Temples, poucos são aqueles que são reconhecidos no mainstream e conseguem alguma publicidade.

Analogamente a esse movimento retrô underground, existe o futurismo underground do Kraftwerk e de grupos do movimento Krautrock que foram pioneiros em pavimentar o caminho para a música pós-rock que só se tornaria exequível várias décadas depois dos anos 60.

O mainstream se forma sobre esse pano de fundo underground, aquilo que vai virando popular devido a massificação e aceitação do público.

As vantagens de não nos fixarmos somente em hits musicais são várias, sendo a vantagem mais óbvia descobrir o tipo de música que realmente gostamos sem nenhuma pressão da moda ou da avaliação dos críticos.

Escutar uma música por que alguém disse que é boa?
Por que um crítico profissional disse?
Por que a maioria também escuta?
Por que a música foi produzida por um músico virtuoso?
Por que o grupo badalado X sempre faz música boa?

A resposta é um enfático não para todas as perguntas. Eu quero escutar uma música  boa e agradável pra mim, por outras razões diferentes e motivos mais importantes.

Quando investigamos a sonoridade da música desde a época dos primeiros vinis nos anos 50, o que constatamos de cara é que existem cantores e bandas que só fazem uma ou duas músicas de sucesso e depois são quase esquecidos, o que nos faz perguntar seriamente:
 "Por que devemos ser obrigados a aprovar toda e qualquer música de uma banda específica se apenas algumas músicas nos interessam e muitas vezes apenas uma?".

Essa questão mudou completamente a maneira que ouvimos música hoje em dia. Não temos mais um mercado orientado para álbuns de bandas e nem seus DVD's e CD's, mas sim para as músicas individuais nas plataformas.

Isso foi o resultado da queda drástica na venda de discos (primeiro os vinis e depois os CD's) desde o surgimento da Internet e de forma mais acentuada depois do surgimento de softwares como o Napster e de sistemas de venda legalizados como o iTunes da Apple. Esse mercado continua em evolução, com a queda constante e expressiva nas vendas de mídia física relacionada à música.

Por isso é recomendável organizar nossas músicas underground nos cartões SD e dispositivos de memória, onde podemos colecionar tais músicas avulsas. É um modo de escutar música que se prende menos a popularidade das bandas e dos músicos e mais a música em si.

Deixar a mente aberta a criatividade e se expor com menos preconceito musical a uma "música estranha" é também criar uma blindagem protetora contra o lixo sonoro que somos expostos diariamente pelos meios de comunicação.

Nesse contexto, músicas antigas que são consideradas coisas de "dinossauro" pela geração millennial não são necessariamente música de vanguarda underground. Normalmente só prestamos atenção e lembramos do que fez sucesso,  até para criticar alguma coisa pela sua antiguidade devemos nos basear em algo com ampla divulgação.

Por exemplo, fica fácil criticar seu avô pela sua preferência por um rock que foi do topo das paradas nos anos 60 e que já não é mais e nem toca mais na mídia, mas fica quase impossível falar mal do que a mídia não divulgou.

Se a música foi pouco divulgada e não se consagrou, talvez nosso cérebro não registre mentalmente no "balaio das coisas ruins", mas no "balaio das coisas estranhas". Essa observação é muito significativa para a experiência de ouvir música.

A estranheza de uma música e o fato dela não ser lembrada como um hit pode torná-la ainda mais aceitável e musicalmente agradável como uma experiência similar a escutar uma estação de rádio com um bom repertório.

Grande parte dessas observações sobre a vanguarda da música também valem para a música eletrônica moderna que tem pretensão de fazer algo diferente, o tempo que vai julgar se a música tinha valor musical ou se foi apenas uma experiência criativa. Enquanto essas músicas eletrônicas não são "julgadas pelo tempo" e permanecem competindo por seu lugar ao sol essas músicas indubitavelmente merecem o rótulo de underground.

Existe uma sinergia do underground que não fica limitada a nosso tempo presente e se estende para o passado e para o futuro, a boa e velha música antes de ser massificada e superexposta na mídia.

A criatividade musical que existe na música erudita que é pouco apreciada nos dias de hoje,  existe na música underground e até no mainstream. Porém, enquanto ouvintes de música underground podemos romper com as amarras limitantes do mercado e decidir por nossa conta o que nos interessa de verdade, algo que é também mais gratificante e mais criativo.

MAPA MENTAL DA MÚSICA UNDERGROUND

Nenhum comentário:

Postar um comentário