Em nossa sociedade tecnocrata atual, existem castas privilegiadas de cidadãos como os programadores de computador cujo ofício fornece uma proteção natural contra o conformismo induzido pelo sistema que lucra com a preguiça mental.
Além dos programadores que fazem os programas\apps e dos usuários comuns na outra ponta, ainda existem os heavy users ou usuários que adquirem uma expertise com relação as tecnologias que mais usam. Esses usuários exigentes são uma minoria de pessoas curiosas e com espírito independente que não se submetem tão fácil aos programas. Alguns desses usuários mais rebeldes até realizam uma transição e se tornam eles próprios os programadores.
Hoje, o design de um aplicativo e a sua interface, bem como seu sistema próprio de lucro e publicidade, conta tanto ou mais do que o objetivo do programa. "Como vende" é mais importante do que "pra que serve".
A maioria dos usuários não se interessa somente pela utilidade de um programa ou app. Eles querem saber: É fácil de usar? Tem uma boa interface? Tem uma boa aparência? É popular?
São todas questões humanas, não questões sobre máquinas. É um fato evidente que o programador de computador não programa apenas as máquinas, ele também programa as pessoas.
Pessoas são programadas pelas tecnologias que usam, notificadas incessantemente que devem atualizar, que devem checar porque coisas novas do interesse delas acabaram de chegar, que devem ceder um tempo para conhecer melhor o app e avaliar o mesmo numa plataforma. Algo normal, diriam alguns programados, nada demais diriam outros.
A parcela da sociedade que mais usa tecnologia é como um microcosmo representativo da espécie humana, existem desde os mais rebeldes até os mais subservientes.
Nessa sociedade microcósmica, os programadores são poucos, os programados são muitos.
Vamos explorar filosoficamente a metáfora do título, para chegarmos juntos ao seu significado mais preciso no final do texto.
Quando você ingenuamente tenta escolher o que fazer na internet no seu tempo livre e se depara com notícias personalizadas, vídeos de YouTube personalizados, piadas e virais divertidos do Facebook feitos especialmente para sua pessoa tudo ao alcance de alguns cliques você é o programado e as empresas são os programadores.
Será que você está realmente escolhendo o que quer? Não é certo chamar de escolha o ato de clicar aleatoriamente no que aparece no campo de visão.
Você nunca parou pra pensar que isso que faz na internet no seu tempo livre, apertando botões e clicando, pode ser considerado um tipo de trabalho não remunerado?
Pois é, meus caros leitores. Somos cobaias de um grande experimento social e psicológico em massa.
Quando você joga na loteria regularmente você faz o papel do programado e o governo faz o papel do programador. O governo é um mercador de ilusões, promove a ilusão de riqueza para todos os jogadores, mas a única certeza é o aumento do capital nos cofres federais a cada sorteio.
Os programadores jogam com certezas e os programados jogam com dúvidas e probabilidades. Os programados já entram no jogo para perder, isso é o que podemos chamar de uma derrota programada.
Quando você olha memes no Facebook e no Wathsapp, você é o programado e o autor do meme e em última instância a chefia da empresa são os programadores.
Quem ri mais, você ou os donos dessas tecnologias?
O comportamento estereotipado do internauta pode ser exemplificado pela sua expressão de regozijo com o besteirol de fácil assimilação: "Como essa gente tem tempo! Hahaha".
Não acredito que um viciado em virais e em vídeos engraçados que se manifesta dessa forma esteja se divertindo mais do que a pessoa que programou esse comportamento e lucra com isso.
Afinal esse vídeo adicto foi programado para acreditar que tudo é um besteirol amador e não um grande esquema profissional, não é mesmo?
Existe uma inércia mental absurda, quando se trata de aceitar e se convencer que hoje em dia pessoas são pagas para produzir conteúdos disfarçados como material amador. Muitas vezes quem produz memes toscos de besteirol são recrutados pelos empresários somente para impulsionar os negócios da empresa.
Alguém duvida que o interesse por esse material vai cair drasticamente se as pessoas descobrirem que eles são produzidos por profissionais? Para o bem dos negócios a ilusão de amadorismo deve continuar.
Com um pouco de senso crítico e reflexão, qualquer um chega nas mesmas conclusões que foram apresentadas e encontra vários outros exemplos de programação de pessoas pela tecnologia.
Revelando a metáfora do título
Bem, agora chegou a hora de revelar o significado da metáfora do título, embora todos já tenham percebido.
Num futuro "isso é muito Black Mirror", se as corporações optarem pela exploração alucinada de big data, sem a devida preocupação com a ética publicitária e com a saúde mental das pessoas que utilizam os serviços, o mundo ficará dividido entre dois tipos de pessoas.
Os programadores
Aqueles que produzem ativamente informação, cultura, negócio e publicidade, com senso crítico suficiente para exercer o direito de escolha.
Os programados
Aqueles que consumem passivamente tudo que é produzido pelos primeiros e que não tem senso crítico suficiente para exercer o direito de escolha.
Agora faça a pergunta a você mesmo:
Qual dos dois você quer ser?
Disse tudo! Parabéns pelo post, diz muito em poucas palavras, realidade pura do que acontece hoje, um retrato fiel da era pós-internet: a separação entre programadores e programados.
ResponderExcluirAtravés de J.B, Watson, psicólogo behaviorista, a psicologia foi aplicada a publicidade e de certa forma ele é um pouco culpado por esse frenesi por consumo sem critério que tu citou, onde o "Como vende" é mais importante do que "pra que serve".
Precisamos fortalecer nosso senso crítico e reflexão, não aceitar prontamente e sem critério tudo o que vemos, lemos ou ouvimos.
Obrigado. Já vivemos num mundo com muitas coisas mostradas no Black Mirror, as pessoas tem que tomar o controle da tecnologia rapidamente, se não seremos meros peões e serviçais das inteligências artificiais, esquemas publicitários e do conformismo.
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