Platão, no ano 380 A.C., separou o conhecimento objetivo da opinião subjetiva. Devemos prestar atenção nessa separação, para evitar erros de julgamento que confundem a verdade com a falsidade e embotam o raciocínio.
Opinião e Crença se manifestam de forma diferente
Nossos gostos e nossas crenças se originam de escolhas particulares situadas no extremo da subjetividade.
Exs.: "Prefiro a cor vermelha à cor azul". (gosto)"Acredito que o espírito existe". (crença)
A opinião é um parecer pessoal que fica no meio termo entre a subjetividade extrema da crença pura e a subjetividade moderada de um argumento irrefletido. Em suma, a opinião é uma crença que tenta se passar por conhecimento, portanto está ligada a retórica e não a lógica.
Definição sumária: A opinião é uma crença disfarçada.
Como se diferencia o gosto da opinião no Futebol?
Cada torcedor escolhe primeiro para qual time X que vai torcer. Essa é a primeira escolha subjetiva de gosto que determina e afeta todas as outras escolhas de gosto.
Ex.: Gosto do time X, gosto da bandeira do time X, mas não aprovei os uniformes do time X e nem o técnico do time X.
E quanto as opiniões?
Quando um comentarista de futebol analisa o resultado de uma partida, tentando parecer isento e racional, ele está expressando opiniões sobre o Futebol. Mesmo que o comentarista não tenha preferência por nenhum dos times que disputaram a partida, ele vai saturar o seu discurso com crenças, gostos, palpites e idiossincrasias embaladas com muita retórica e disfarçados como análise objetiva.
O mesmo que vale para o comentarista de futebol vale para os críticos de música e de cinema e aqueles que fazem crítica cultural como youtubers, vlogers, digital influencers e jornalistas diletantes de sites de cultura pop. Todos expressam opiniões subjetivas e não conhecimento.
Opinião e Crença são essencialmente a mesma coisa
Vamos analisar o que pensa um torcedor de futebol, através de dois argumentos aparentemente diferentes, mas que são em essência a mesma coisa.
Com a retórica (opinião\crença disfarçada):
O meu time deveria vencer todas as partidas porque merece. E porque blá blá blá...(um monte de argumentos retóricos e ilógicos)...blá blá blá...
Sem a retórica (crença pura):
Quero que o meu time vença e pronto.
As duas frases expressam a mesma crença, na primeira versão a crença é disfarçada como opinião e na segunda versão a crença é explícita, sem a opinião.
O argumento "o meu time deve vencer, porque merece" assim como "o meu time deve vencer, porque tem mais torcedores" são falácias lógicas, opiniões baseadas no gosto individual do argumentador.
Na Religião, o argumento falacioso similar seria "a minha religião deve prevalecer, porque merece" ou "a minha religião deve prevalecer, porque tem mais devotos".
Na Política, as falácias lógicas conseguem ser ainda piores, pois existe uma quantidade absurda de meias-verdades e platitudes misturadas com a falácia ad hominem. O ataque ofensivo a pessoa do argumentador é uma constante no debate político que se estende também aos militantes.
Exemplos de platitudes:
"A corrupção é o pior mal do Brasil, o juiz X fará justiça combatendo o mal". "O Brasil é um país de proporções continentais, a crise afeta a todos, devemos reformar a previdência, nada pode ser feito no Brasil enquanto a reforma da previdência não for aprovada".
Então a retórica infesta tanto a política quanto o jornalismo sobre a política, é uma guerra erística de platitudes, todo mundo querendo mostrar que está certo e atacando o outro pessoalmente através de ofensas e difamações.
Uma opinião é, em geral, uma falácia lógica, exceto quando se alinha com o conhecimento baseado na ciência objetiva.
O Conhecimento
Não é minha opinião que 1+1=2 ou que Energia-Tempo são duas dimensões conjugadas da mecânica quântica ou que a Terra gira ao redor do Sol numa curva geodésica quadridimensional, os argumentos expressam conhecimentos da matemática, lógica e ciência em geral.
Para Platão, a busca do conhecimento e a sua divulgação através do ensino é uma das missões mais nobres que o ser humano pode se engajar, o valor primordial da educação jamais deve ser subestimado.
Podemos discutir Religião, Política e Futebol?
A resposta é não, não existe verdade objetiva nesses domínios para ser discutida como nos asseverou Platão a mais de 23 séculos atrás. As pessoas não devem discutir religião, política e futebol como se fossem assuntos objetivos, pois são assuntos ideológicos infestados de contradições lógicas, inconsistências e idiossincrasias.
A verdade quando existe, deve ser buscada fora desses domínios, cada veneno tem seu contraveneno. Os venenos são os diversos fanatismos militantes e os contravenenos são os antídotos do pensamento racional.
Para o veneno da política, devemos buscar a verdade no senso crítico, para o veneno da religião devemos buscar a verdade no ceticismo, para o veneno do futebol devemos buscar a verdade na ética desportiva como expresso no dito "o importante é competir" e assim por diante.
MAPA MENTAL
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