Todos nós, mesmo que não soframos de depressão em algum momento das nossas vidas já nos sentimos deprimidos ou ansiosos, já ficamos presos no labirinto dos sentimentos e pensamentos disfuncionais negativos, nos tornando preocupados, unilaterais, percebendo o mundo como cinzento, como se fosse visto atrás das lentes de óculos escuros ou como lugar hostil, inseguro e perigoso; ou dando imensas dimensões a acontecimentos banais, como se estivéssemos vendo tudo através de um microscópio e assim nos percebendo como fracos e facilmente derrubáveis por comentários alheios. Nesses momentos a pessoa faz sempre avaliações negativas de si mesmo e do mundo.
Na visão Psicanalítica, a depressão envolve o instinto de morte tentando levar o organismo de volta a um estado inorgânico. A pulsão de vida é o que movimenta e transborda e a pulsão de morte é o que para.
"Freudianos e lacanianos acreditam que existem, no ser humano, forças de destruição da ordem. Defendem que derivam da pulsão de morte, já Honneth rejeita este conceito e sustenta que tais forças antissociais surgem no processo de separação entre mãe e bebê" (PACHECO, 2016, p.78).
Melanie Klein descreve o terror primário de aniquilamento que o bebê vivencia nos seus primeiros meses, uma espécie de medo persecutório da mãe que constitui a essência do que a autora denomina Posição Esquizoparanóide. Esses ciclos oscilantes de projeção e introjeção continuam até a criança integrar a mãe boa e a mãe má numa só pessoa.
A autora afirma que experiências de separação precoce na infância criam uma sensibilidade neurobiológica ao abandono, sensibilizando receptores, deixando-os vulneráveis as ideias e as imagens associadas a estados depressivos: sentimentos crônicos de culpa, desamparo, auto-estima persistentemente baixa, tendência a ser autopunitivas, hipercríticas consigo mesmas e sentimentos de desesperança em relação às coisas em mutação contínua.
Melanie Klein ligou a depressão ao que chamou Posição Depressiva, entendendo os estados maníaco-depressivos como um reflexo da falha da infância em estabelecer objetos internos bons. A posição depressiva então seria reativada como resultado da perda do objeto amado e só seria superada através da reintegração do objeto bom perdido, elaborando a posição depressiva com mais êxito, integrando lados do amor e do ódio de suas representações internas, questionando-se sobre a origem de seus sintomas e o quanto está condicionado a eles.
A abordagem cognitiva desenvolveu o conceito de esquema, proposto por Beck (1997). Os esquemas seriam estruturas cognitivas que codificam, avaliam e interpretam, impondo um padrão de percepção da realidade, numa espécie de filtro cognitivo.
Esses esquemas mentais seriam construídos na infância, gerando crenças disfuncionais, pensamentos e sentimentos automáticos negativos. Uma espécie de vício em emoções disfuncionais e desconfortáveis que podem levar até mesmo ao suicídio, como provam os altos índices dessa enfermidade registrados nas sociedades modernas.
As imposições e exigências da sociedade atual também colaboram e muito para os profundos sentimentos negativos, mas ao contrário do que a maioria das pessoas quer nos fazer acreditar, não precisamos fazer o que todos fazem para nos sentirmos bem ou normais. Por exemplo, a psicologia aplicada ao marketing quer nos convencer que precisamos de um determinado produto para sermos felizes. Mas o que realmente precisamos? será que não seria extremamente mais importante conhecer profundamente a nossa maneira de ver o mundo e refletir sobre isso, para que não sejamos vítimas de nossos próprios esquemas mentais e consequentemente de nossas próprias crenças e valores?
Como nos diz Stevens (1977) A pessoa presta atenção as palavras do hipnotizador e ignora os seus próprios sentidos, o seu próprio experienciar de seu mundo. Existe hipnose dos pais, da sociedade, das autoridades, dos amigos, cônjuges, etc. que lhe dizem como você deveria ser. Há também sua auto-hipnose que lhe diz que você precisa ser de uma maneira ou de outra, ou então não será amado, não será bem sucedido e etc.
Existem inúmeras abordagens da depressão, umas privilegiando mais o social, outras privilegiando mais o indivíduo, mas em todas elas o ponto central é o mesmo: ser uma luz de orientação na estrada escura e tortuosa dos pensamentos e sentimentos automáticos negativos e disfuncionais.
"O trabalho do negativo seria importante tanto para freudianos como para intersubjetivistas. Haveria (...) um pressuposto frágil na teoria freudiana: a crença de que forças de negatividade derivam de uma pulsão de origem biológica e não intersubjetiva (ou social). Tal suposição teria fornecido à psicanálise freudiana uma forte carga metafísica. Em razão disso, para Honneth, a saída há de ser encontrada em versões da psicanálise alinhadas a um intersubjetivismo"(PACHECO, 2016, p.81).
É importante saber em que intensidade os sentimentos e pensamentos disfuncionais suscitados pelos esquemas, afetam a nossa existência, nos impedindo de ver as coisas como realmente são. Na área psi, vivência e experiência são instrumentos fundamentais da orquestra.
"A pulsão de morte se manifesta na compulsão à repetição, isto é: “casos em que o indivíduo parece vivenciar passivamente algo que está fora de sua influência, quando ele apenas vivencia, de fato, a repetição do mesmo” (PACHECO, 2016,p.82).
O tratamento da depressão envolve recuperar a autoestima e realizar um distanciamento afetivo das opiniões alheias, arejar a percepção. Diminuir-se a importância daquilo que não traz benefício ou nada acrescenta ao desenvolvimento do sujeito. Apenas são consideradas as relações e ambientes instigantes para o desenvolvimento, o objetivo é formar novas sinapses, novas conexões neuronais e desfazer outras.
Quando por exemplo, sugiro a pessoa que tente andar por uma rua diferente ao vir me visitar, criar um novo hobby, realizar uma atividade diferente, passar por novas experiências, estou incentivando-a a construir novas conexões neuronais. Entender a pessoa é compreender seu mundo subjetivo.
Uma técnica muito utilizada nas abordagens cognitivo-comportamentais é o enfrentamento das fobias ou medos. Por exemplo, aquele que for tímido pode subir em uma mesa e fazer um discurso ou participar de um seminário. Quem tem medo de altura pode usar programas em 3D que simulam que a pessoa está numa montanha russa ou no alto de um prédio até que a pessoa consiga enfrentar definitivamente seu medo.
Referências:
BECK, J. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, (1997).
GABBARD, G. O. Psiquiatria Psicodinâmica. Artes Médicas, São Paulo, 1998.
STEVENS, J.O. Isto é Gestalt. Summus editora: São Paulo, 1977.
PACHECO, M. Honneth e a pulsão: sobre as razões e as consequências para a crítica social da rejeição honnethiana à pulsão de morte freudiana. São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Dep. de Filosofia. 2016 volume 27 número 1, 78-85.
Parabéns pelo post, bem informativo.
ResponderExcluirCada vez eu me convenço mais que o segredo para um envelhecimento saudável, além da dieta e do exercício físico, é criar hobbies para o futuro.
Já diz a boa filosofia "feliz é aquele que se satisfaz com pouco". Parece que as pessoas criam objetivos inalcançáveis e colocam condições para si próprias que as impedem de curtir as pequenas felicidades e alegrias do dia dia. Como um curto-circuito cerebral, exigem cada vez mais um "aumento da dose", quando na verdade a alegria simples não exige hiperdosagem de coisa nenhuma.
Exatamente, pequenas felicidades e simplicidade valem muito nos dias de hoje. Motivos para se deprimir é o que não falta, mas precisamos testar novos caminhos, modificando essas nossas velhas conexões neuronais disfuncionais geradas pelos esquemas, diminuindo assim os pensamentos e sentimentos automáticos deprimentes.
ResponderExcluirIsso. ai devemos aprender q toda vez que. o motivo do dia deixou depre nao se repetir sempre resolvendo de uma maneira ou de outra .procurando sempre afastar o pensamento negativo e os alheios e procurar viver cada momento a melhor maneira possivel pois certos momentos sao unicos
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