Podemos denominar o mau uso da tecnologia, sem a devida etiqueta e sem a empatia por outro ser humano de histrionismo tecnológico.
Talvez a ameaça da inteligência artificial, com máquinas autônomas e robôs assassinos tenha sido enormemente exagerada, afinal de contas. São as próprias pessoas que ameaçam os valores da civilização, pois a ética e os valores humanos não acompanham o progresso da ciência.
O perigo que nos ronda, bem ao estilo da distopia da franquia de filmes The Purge (Anarquia), pode estar na horda de transtornados que infestam a Internet. Não podemos subestimar os usuários histriônicos. Não uso o termo no seu sentido psiquiátrico usual, mas no sentido mais amplo da tecnologia como catalisadora de comportamentos similares ao histrionismo endógeno.
Este ensaio amplia e aprofunda o perturbador fenômeno da demência digital, uma chaga aberta na sociedade civil.
Qual o perfil do portador de histrionismo tecnológico?
É um indivíduo geralmente com pouco estudo e instrução, pouco QI, evadido do sistema escolar ou que abandonou o ensino superior em algum ponto. Frustrado e revoltado, com sua família e com seus vizinhos, esse fanfarrão da tecnologia utiliza de modo tosco celulares, computadores e qualquer outra tecnologia somente para causar dano.
Vive como se estivesse num picadeiro de um circo virtual, onde é um tipo de palhaço, o centro das atenções. Se mantém conectado várias horas por dia, mas tem preguiça de escrever e mal consegue ler textos simples com algumas dezenas de caracteres por vez. Geralmente, o Twitter é a sua rede social preferida. Tal indivíduo não tem um bom motivo para o uso desenfreado da tecnologia, muito menos tem a habilidade requerida para operar qualquer tecnologia mais complicada do que uma calculadora infantil.
Ele estalqueia e se vitimiza dizendo ser estalqueado, mente e inventa falsidades sobre si e sobre os outros, repassa memes de humor negro e fake news para "desopilar". A mitomania é um sintoma clássico do transtorno de personalidade histriônica, divulgada amplamente na literatura psiquiátrica. A mentira amplificada pela tecnologia, pode alcançar uma magnitude ainda maior, seja no nível social ou no nível da saúde mental do indivíduo. Com base nessas considerações, podemos dizer que o troll que pratica cyberbullying regularmente, em redes sociais e em fóruns pela internet, tem histrionismo tecnológico.
O portador do histrionismo tecnológico se acha um humorista nato, mas sua vocação não é fazer rir. Pode ser reconhecido facilmente no ambiente da internet tentando fazer gracinhas ou zombando de pessoas que não podem se defender.
Esse valentão ou troll de internet, é o mesmo sujeito que quando está na rua, faz o tipo do xereta que se reúne a outros populares para bisbilhotar um acidente qualquer. Por exemplo, ao invés de ter empatia e prestar ajuda a uma idosa que tenta atravessar a rua, ele prefere se omitir e filmar a senhora derrubando suas compras no chão. Faz um uso fútil da tecnologia porque supõe que a divulgação de besteirol vai aumentar a sua popularidade.
Agem como os delinquentes patéticos do filme Laranja Mecânica, porém estão num ambiente virtual, anestesiados com a tecnologia. A desculpa batida para esses atos impróprios é que "não fazem nenhum mal", pois o que está na internet não deve ser levado a sério.
O troglodita do som tunado é um outro espécimen intrigante dessa variegada fauna de obtusos intelectuais, que enxergam a tecnologia como um fim em si mesmo e não como um meio de entretenimento. O que faz um ser humano colocar o volume do uma caixa de som amplificado acima de 80 decibéis, causando danos irreversíveis a seu sistema auditivo e da sua família?
Não me refiro aos competidores desse hobby que executam suas performances nos fins de semana e em espaços dedicados a essa finalidade, mas aqueles que transformam o pátio de suas casas num freak show de paredões de som. Querem transmitir a mensagem de que tudo podem, que estão competindo para ver quem tem o som de carro tunado mais potente. Essa situação grotesca lembra o instinto bestial do hipopótamo, que ao defecar em si mesmo e usar a cauda como uma hélice para espalhar os excrementos, se torna o líder da manada.
Assim como ocorreu com a demência, que ganhou um novo subtipo digital, podemos prever que o estudo dos efeitos deletérios da tecnologia sobre a personalidade e o psiquismo, vai gerar futuramente, um update na sintomatologia dos transtornos de personalidade.
Concluímos que o histrionismo tecnológico, além de ser uma potencialização ambiental do histrionismo endógeno, também é desencadeado pelo uso excessivo da tecnologia por parte de pessoas consideradas normais. Tudo indica que a associação de tendências histriônicas inatas na personalidade, com um quadro persistente de demência digital é o gatilho do problema.
Esquematicamente:
Histrionismo Tecnológico =
Tendências histriônicas inatas + Demência Digital
Com bom humor tu trouxe um tema importantíssimo da era pós-internet. Não teria descrito tão bem os perfis e variados tipos como também os comportamentos que tu descreveu, realmente uma análise clínica desses fenômenos.
ResponderExcluirO histrionismo tecnológico e a demência digital podem tornar a própria vida e a vida do outro infeliz, numa espécie de círculo vicioso de sadismo inato que algumas pessoas tem, sentem prazer em ver, alimentar e causar o sofrimento, são pessoas infelizes, egocêntricas, narcisistas e exibicionistas que vivem apenas de aparências.
O objetivo do ensaio foi mostrar que aqueles que são diagnosticados com histrionismo e as pessoas "normais" podem exibir sintomas semelhantes, se forem expostas demais a uma tecnologia debilitante que induz demência.
ExcluirEssa sensação de poder que a tecnologia proporciona, pode se tornar uma prisão mental para pessoas que recorrem aos equipamentos e tecnologias sem a leitura do "manual de instruções" e as que escrevem qualquer coisa na internet, sem o conhecimento necessário para produzir um conteúdo minimamente relevante.
O histrionismo tecnológico é uma novidade, talvez o meu ensaio seja o primeiro a evidenciar o fenômeno.
No entanto, basta pesquisar um pouco para confirmar que já existem vários trabalhos acadêmicos mostrando a relação entre o uso disfuncional do Facebook e o perfil histriônico.