segunda-feira, 22 de julho de 2019

É possível existir fora do tempo?

São questões filosóficas como essa que permitem ao ser humano entender melhor a sua realidade, vou mostrar que não se trata de um devaneio excêntrico e nem uma questão que não podemos encontrar a resposta objetiva.

O exemplo mais ilustrativo da ideia e do desejo humano de existir fora do tempo vem da ficção científica, do projeto da máquina do tempo Titan do seriado 12 Monkeys do Syfy.

Sem entrar em detalhes e nem revelar spoilers, basta dizer que ao contrário da maioria das produções de ficção envolvendo máquinas do tempo, o objetivo não era simplesmente viajar entre épocas diferentes. O objetivo megalomaníaco da "Testemunha" era desligar o tempo no planeta Terra, proporcionando uma felicidade plena e atemporal na cidade-máquina Titan.

A elucidação filosófica que apresento aqui é apenas uma tentativa de responder a questão em aberto, embasada em vários anos de estudos e reflexões sobre a filosofia do realismo platônico e do naturalismo metodológico da ciência.

Realismo Platônico
- Objetos Matemáticos e Ideias Platônicas
- Entidades Físicas

Segundo o platonismo e o neo-platonismo, os objetos matemáticos e as ideias platônicas existem fora do tempo. Esse pensamento é aceito pela maioria dos matemáticos e cientistas, mesmo que não reconheçam publicamente.

A linguagem matemática é superordenada em relação à linguagem da física que se fundamenta na matemática aplicada. Para os platônicos o escopo da física é mais pobre e limitado do que o escopo da matemática pura que apresenta maior riqueza e diversidade criativa.

Até que ponto esse pensamento platônico é verdadeiro?
É isso que pretendo resolver neste texto, encontrar um determinante do pensamento objetivo que responda essa questão e a questão do título.

Como veremos, é possível um outro modo de pensar e filosofar que coloca as ideias platônicas e os objetos matemáticos em harmonia com os objetos físicos.
Restrição das leis naturais válidas
Se outras leis da natureza que não requerem a existência do tempo fossem possíveis, poderíamos provar que são leis inconsistentes, pois o significado de lei seria vácuo sem a imutabilidade no tempo. 

Usando o Teorema de Noether como fundamento, podemos ir mais longe ainda e entender que seres sencientes não poderiam existir em outros universos onde as leis da física não contemplam a conservação da energia e a existência no tempo.

Vamos analisar a proposição:
Sujeito (x v ~x) que pensa em objeto (x v ~x)

Atributos:
x - físico; ~x - não físico

- Sujeito físico que pensa em objeto físico
- Sujeito físico que pensa em objeto não físico
- Sujeito não físico que pensa em objeto físico 
- Sujeito não físico que pensa em objeto não físico

Premissa 1: A cognição, a inteligência e a consciência são fenômenos subordinados à informação.
Premissa 2: A informação é física (princípio de Landauer)
Conclusão: O sujeito cognoscente é físico.

A suposição de que sujeitos cognoscentes não físicos podem existir é falsa. Desse modo, reduzimos de quatro para duas possibilidades que podem ser melhor analisadas:

- Sujeito físico que pensa em objeto físico
- Sujeito físico que pensa em objeto não físico
A Física da Representação

Descrição Física do sistema representado+representação

A) O representado  (ente de estudo)
B) A representação (ente físico que codifica o representado)

Energia total do sistema: E = EA + EB
Tempo próprio do sistema: t

Nesse contexto específico, absolutamente coisa alguma existe fora do tempo, pois mesmo na descrição física de algo imaginário com EA=0, o respectivo sistema físico composto não teria a energia total E=0.

De forma indireta, através da representação, até mesmo os entes imaginários pensados pelo ser humano existem fisicamente no tempo através dos impulsos nervosos nos neurônios daqueles que os imaginam.

Restou apenas uma afirmação:
Sujeitos físicos que pensam em objetos físicos.

Premissa 1: A Realidade é representável somente por informação.
Premissa 2: A Informação é física.
Conclusão: A Representação é física.

Seria lícito do ponto de vista filosófico e científico dizer que ideias matemáticas realmente existem fora do tempo?

No momento que imaginamos algo que não existe fisicamente e até de algo que viola as leis da natureza, automaticamente mobilizamos uma representação mental no cérebro com um conteúdo de energia que existe no tempo e que segue todas as leis da natureza.

O mais interessante é que esse raciocínio se aplica a alucinações, sonhos, devaneios, fantasias, elucubrações, experimentos mentais e teorias físicas alternativas como aquelas que imaginam a existência de universos com outras leis da física.

Essa é uma restrição severa da cognição humana, a inexistência só pode ser representada fisicamente. Inclusive qualquer coisa que hipoteticamente julgamos não existir neste universo e julgamos existir em outro.

Premissa 1:
A representação é física.
Premissa 2:
A matemática é representação.

Segundo essas premissas, os objetos matemáticos e as ideias platônicas são representados fisicamente em algum substrato biológico ou artificial, portanto existem no tempo.

Conclusão:
Como não podemos considerar real (no naturalismo metodológico) o que não pode ser representado, coisa alguma pode existir fora do tempo.

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