sábado, 28 de março de 2020

Armadilhas Mentais: Memes

Os vieses cognitivos que distorcem a interpretação da informação podem ser estudados em detalhes pela Psicologia Cognitiva e Comportamental.

Seres humanos, na maioria das vezes, interpretam errado as situações que envolvem os estímulos fáceis dos memes. A armadilha mental do meme induz a persistência da memória em algum subproduto cultural duvidoso com superexposição na mídia e promove a aceitação irrefletida de confabulações que tentam se passar como verdades.

A origem do termo meme

Richard Dawkins, definiu o meme como o replicador cultural análogo ao gene, no seu livro O Gene Egoísta, em 1976.

Como podemos ler num trecho do livro:

O Gene Egoísta
Capítulo 11: Memes, os Novos Replicadores


"... (...)...Acho que um novo tipo de replicador recentemente surgiu neste próprio planeta. Ele está nos encarando de frente. Ainda está em sua infância, vagueando desajeitadamente num caldo primordial, mas já está conseguindo uma mudança evolutiva a uma velocidade que deixa o velho gene muito atrás.

O novo caldo é o caldo da cultura humana. Precisamos de um nome para o novo replicador, um substantivo que transmita a ideia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação. "Mimeme" provém de uma raiz grega adequada, mas quero um monossílabo que soe um pouco como "gene". Espero que meus amigos helenistas me perdoem se eu abreviar mimeme para meme. Se servir como consolo, pode-se, alternativamente, pensar que a palavra está relacionada a "memória", ou à palavra francesa même.

Exemplos de memes são melodias, ideias, slogans, modas do vestuário, maneiras de fazer potes ou de construir arcos. Da mesma forma como os genes se propagam no "fundo" pulando de corpo para corpo através dos espermatozoides ou dos óvulos, da mesma maneira os memes propagam-se no background de memes pulando de cérebro para cérebro por meio de um processo que pode ser chamado, no sentido amplo, de imitação.

Se um cientista ouve ou lê uma ideia boa ele a transmite a seus colegas e alunos. Ele a menciona em seus artigos e conferências. Se a ideia pegar, pode-se dizer que ela se propaga , a si própria, espalhando-se de cérebro a cérebro. ... (...)..."

Depois dessa primeira menção em 1976, o meme teve uma aceitação mista entre os filósofos, antropólogos , psicólogos e intelectuais. Alguns ficaram convencidos da existência dessa unidade replicadora na cultura humana, enquanto os mais céticos negaram a utilidade do meme, contestando a validade da extrapolação realizada por Dawkins.

Entre os psicólogos, a Psicóloga Susan J. Blackmore foi uma das que abraçou a ideia do meme e produziu diversos artigos científicos e livros sobre o assunto.
O Meme de Internet

Conhecido como "meme de internet" ou simplesmente meme, é uma montagem de imagem e texto, envolvendo alguma notícia popular amplamente divulgada na mídia.

A apropriação do termo meme pelos internautas ocorreu no auge de popularidade dos criadores de memes do fórum 4chan, com a propagação do meme do grupo de hackers e ciberativistas do Anonymous.

O meme de internet é estudado por publicitários e marketeiros como um componente do marketing viral. Os virais, como os vídeos amadores, as músicas pegajosas  e as montagens de imagens, texto e animações que se referem a notícias polêmicas amplamente divulgadas na mídia podem começar de modo não intencional como uma brincadeira ou podem ser meticulosamente planejados por escritórios publicitários e empresas de informática que vendem esse tipo de serviço.

Devemos ter em mente que o meme de internet se presta para vários fins, pode servir tanto como uma manifestação do histrionismo tecnológico dos comentaristas que frequentam os fóruns de notícias, tanto quanto pode ser usado para disseminar pseudociência e fake news criminosas ou  ainda podem servir para um internauta entediado desligar o cérebro e desopilar.

Mesmo na melhor das hipóteses, eu não recomendaria apostar em memes de internet para desopilar e nem nos estímulos fáceis associados, pois tais estímulos minam o senso crítico, gerando vários vieses de raciocínio e déficits cognitivos que afetam a qualidade de vida das pessoas.

Para saber mais :

O Gene Egoísta, Richard Dawkins

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