sexta-feira, 5 de abril de 2019

Informar é mais do que Noticiar


Precisamos urgentemente informar sobre o que significa informar. Pois o significado de informação foi ridiculamente distorcido pela mecânica operativa da internet.

A inovação de Steve Jobs no lançamento do primeiro iPhone e de Tim Berners-Lee com a Internet vão ficando para trás, dando lugar a manutenção do que já foi criado.

Nesse amálgama tecnológico de dispositivos móveis e internet, ainda existe o duelo dos sistemas operacionais (Android X iOS) e o interesse das empresas na fabricação de produtos lucrativos para acessar a internet.

O mercado dos celulares se mantém apenas com base no lançamento de novos modelos, sem a mínima necessidade de uma inovação radical para dispositivos móveis. Atualmente, o mundo inteiro acessa mais a internet através dos celulares, do que por notebooks ou desktops. Quanto mais celulares são vendidos, melhor para o sistema.



O celular só deveria ser acessível aqueles que tem o mínimo de instrução, pois a produção de informação privada e informação voltada para coisas mundanas se multiplicou sem controle nas últimas duas décadas. Esse registro online de "papo furado" é totalmente efêmero, com valor cultural nulo. É uma espécie de rejeito cultural, imposto pela economia de mercado, uma dissonância cognitiva causada pelo mau uso da palavra escrita.

Até os animais tem cultura. Um símio inteligente, como o Chimpanzé da figura acima, pode ensinar seus filhotes como usar ferramentas rudimentares. Eu acredito que se eles pudessem usar a internet fariam o mesmo através do dom da palavra escrita.

Que bela cultura e que belos ensinamentos teriam esses animais se pudessem se comunicar por escrito e registrar o que sabem na internet.



A falsa ideia propagada na internet de que a notícia tem mais valor do que um artigo sobre algum tópico cultural importante se disseminou. Poucos refletem sobre o absurdo de igualar informação com notícia.

Os fins justificam os meios, produzir notícia com qualidade duvidosa em um ritmo de linha de montagem se justifica, se o objetivo for jogar uma isca para capitalizar em cima do número de views. E os que não conseguem capitalizar, querem "ser populares", publicando coisas que só interessam a uma parcela restrita da população.

O "formato notícia" está seriamente desgastado, os jornalistas diletantes da internet se resumem a traduzir notícias de outros sites estrangeiros na esperança de terem tantos views quanto os sites originais. A norma são as réplicas espelhadas em sites de notícias pop, gerando uma verdadeira Babel de ignorância institucionalizada. Isso sem mencionar os famigerados comentários dos trolls...

E o mais incrível é que nem os donos de sites se dão conta que as notícias sobre cultura pop são assim, passa o hype e a notícia é esquecida, não sobrevive na cultura. Usuários desses sites raramente voltam para ler notícias antigas.

Já uma boa crônica de um cronista talentoso ou um artigo de interesse para a atualidade e as gerações futuras, pode se manter relevante por décadas, séculos ou mais.

Não estou propondo nenhuma utopia digital, pois sempre existem aqueles que entram na internet para ler "jornais" e "revistas de moda" e aqueles que entram para ler "livros" e "tratados científicos". Os nichos sempre vão existir.



A qualidade da informação deveria ser mais valorizada do que a quantidade da informação, pois a promessa dos visionários do Big Data pode se tornar apenas o vislumbre de uma grande rede de esgoto feita de zeros e uns.

Para saber mais:

Notícias - Manual do Usuário, Alain de Bottom

3 comentários:

  1. Realmente a qualidade das notícias está em baixa. É um jornalismo do senso comum, sem qualidade nenhuma, voltado somente para números de visualizações ou curtidas. Recomendo o filme o Quinto Poder, que conta a história de Julian Assange e mostra um pouco dessa realidade. Com certeza um chimpanzé faria melhor uso dessas tecnologias se pudesse.

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    1. Essa prática de produzir "notícia" para ganhar views e likes se baseia na falácia do apelo à novidade ou Ad Novitatem (ver guia de falácias no blog).

      Como se algo fosse bom, somente por ser novidade.

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  2. Sim, o filme o Quinto Poder tenta mostrar uma outra espécie de jornalismo, um jornalismo que pode afetar a história da humanidade.

    No momento que um desodorante vencido num ônibus vira notícia, não há muito com o que comparar. Quadros como "olha que legal" só maquiam a tendenciosidade de portais pop que escolhem a dedo as piores notícias nacionais e internacionais.

    Qualquer um que tem o hábito de olhar jornais de outros países sabe que até as notícias internacionais no Brasil tem um viés sombrio, como se somente a tragédia e a desgraça fossem do interesse dos leitores.

    Futuramente vou fazer um post sobre o jornalismo abutre e o bombardeio de notícias de "crônica criminal" que tratam o brasileiro como se fosse um mero penico onde se pode despejar todo tipo de imundície.

    Infelizmente, enquanto esse tipo de noticiário tiver audiência, a curiosidade mórbida só vai continuar aumentando o séquito de apedeutas que se instruem por celular, jornalecos do povão, Datena e similares.

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