sexta-feira, 10 de maio de 2019

Psicodelia

Em 16 de novembro de 1938, o químico Albert Hoffmann, trabalhando na empresa Suiça, Sandoz Pharmaceuticals, estava tentando criar um estimulante, quando num de seus ensaios laboratoriais acabou sintetizando a dietilamida do ácido lisérgico (LSD).

O cientista não percebeu inicialmente do que se tratava o produto químico e a sua utilidade foi ignorada, até ele consumir acidentalmente uma pequena dose em 1943.  Após algumas investigações, os químicos descobriram que uma pequena dose oral de 25 microgramas bastava para induzir alucinações vívidas.

A  chamada Era Dourada da pesquisa psicodélica,  ocorreu entre os anos de 1950 a 1965, em plena guerra fria. Um dos expoentes dessas pesquisas com substâncias alucinógenas foi o psiquiatra britânico Humphry Osmond, que fez parte de um grupo de terapeutas que estudavam os efeitos da Mescalina e do LSD.

Em 1953, Aldous Huxley, o célebre escritor de Admirável Mundo Novo, ficou sabendo das pesquisas do Dr. Osmond com a Mescalina e se ofereceu como voluntário. Profundamente marcado pela experiência, ele publicou, em 1954, o livro "As Portas da Percepção".

O termo psicodélico surgiu a primeira vez em 1956, numa carta de Osmond para Huxley, na seguinte poesia em inglês:
 “To fathom Hell or soar angelic, just take a pinch of psychedelic”
[Para sondar as profundezas do inferno ou o planar angélico, é só tomar um pouco de psicodélico].

O neologismo juntou as palavras gregas Psykhé (mente) e Delóo (manifestar) para formar psychedelic, cuja tradução para o português é "o que manifesta a mente".

Após essa primeira aparição, o termo foi mencionado oficialmente no artigo científico de Osmond, "A Review of the Clinical Effects of Psychotomimetic Agents" em 1957.

Nos EUA, em 1960, o psicólogo Timothy Leary iniciou suas pesquisas com o LSD e outros alucinógenos que alteram a consciência, com a finalidade de usar na psicoterapia.

Ao final da sua pesquisa, ele publicou em 1964 o livro “A Experiência Psicodélica – Um Manual Baseado no Livro Tibetano dos Mortos”. A obra argumentava sobre os efeitos psicológicos do LSD, proporcionando, segundo Leary, uma benéfica alteração de consciência com a concomitante percepção de unidade cósmica. 

As conclusões de Leary influenciaram artistas de quadrinhos como Jack Kirby, Jim Starlin e Steve Dikto, que injetaram elementos psicodélicos nas representações do espaço sideral e de mundos extradimensionais, nos cenários oníricos e alucinatórios, bem como nos poderes dos personagens. Isso ocorreu principalmente com os personagens que tem a chamada consciência cósmica, como o Dr. Estranho, Capitão Marvel, Adam Warlock, Thanos, Galactus e Surfista Prateado, entre outros.

Os elementos lisérgicos na obra de Leary foram considerados transgressores pelas autoridades que viram em sua figura a imagem de um guru degenerado.

Em 1966, o LSD se tornou ilegal, já na efervescência dos primeiros casos de overdose dos jovens que usavam sem nenhum controle, o LSD estava pouco a pouco se tornando um caso de saúde pública.

Em 14 de Janeiro de 1967, uma reunião da contracultura na cidade de São Francisco, formou a comunidade Hippie, reunindo beats, intelectuais e ativistas políticos. Esse movimento da contracultura também despertou a atenção da maioria das pessoas que estavam insatisfeitas com o establishment da época. O lema "peace and love", com o indefectível sinal de paz e amor feito com os dedos \\//, foram as marcas registradas desse período.

Depois do auge da psicodelia em 1968-1969, a expressão multimídia arte psicodélica entrou para o jargão artístico, para se referir a toda produção artística e cultural que é produzida sob o efeito de substâncias alucinógenas. Arte em sentido amplo e não apenas música, arte que inclui as artes plásticas, histórias em quadrinhos, literatura, música, instalações conceituais e etc.

A música psicodélica no século XXI

No século passado, a música psicodélica era basicamente o rock'n'roll clássico vitaminado com LSD e cogumelos mágicos da segunda metade dos anos 60.

Hoje, a música psicodélica, já bastante desvinculada do consumo de psicotrópicos, busca emular a estética dos artistas de outrora, com resultados variados.

Em 2007, surgiu a banda australiana Tame Impala, com um rock baseado no estilo psicodélico, fazendo um verdadeiro revival do gênero, que perdura até hoje.

Outras bandas como a Temples seguiram a mesma estética retrô e continuam a se apresentar em festivais pelo mundo, dedicados a esse subgênero da música underground.

A psicodelia  inclui as bandas de rock que voltam as origens acústicas do rock psicodélico (vanguarda), bem como bandas que utilizam o background de conhecimento eletrônico moderno para produzir música psicodélica.

Explorando outros ritmos

O termo "Psy" se refere também a Dj's e produtores de música eletrônica que inserem elementos psicodélicos em ritmos diversos do rock.

Como, por exemplo, na música trance ou ambient, através dos respectivos subgêneros psy trance e psy ambient.

Enquanto o subgênero dançante psy trance emergiu para o mainstream devido a popularização das raves, o subgênero psy ambient permanece submerso no underground.

As músicas dos gêneros chillout e psy ambient, ouvidas como "sobremesa" para relaxar depois das raves, acabaram se tornando o "prato principal" para aqueles ouvintes que não estão interessados em dançar e querem apenas escutar uma boa música. 

Exemplos musicais na atualidade
Psicodelia de Vanguarda:
Tame Impala
Temples
Asteroid No. 4
Morgan Delt
Jacoo Gardner
Elephant Stone
The Babe Rainbow
King Gizzard & the Lizard Wizard
Psicodelia Moderna:
Air
Animal Collective
Peaking Lights
King of Woolworths
Shabazz Palaces
Blockhead
Neon Indian
Tipper

Linha do Tempo da Psicodelia
Clique na figura para ampliar

Para saber mais:

Guia do Psiconauta
https://guiadopsiconauta.wordpress.com

Documentário
Tempos de Rebeldia: Contracultura e Psicodelia

2 comentários:

  1. Uma postagem muito informativa. Lembro que nos anos 70 ouvíamos muito o termo psicodélico. Falava-se que a música dos Beatles, "Lucy in the Sky with Diamonts" era uma referência ao LSD, assim como Tropicália, do Caetano, que em sua letra trazia "Sem Lenço Sem Documento", mas era isso. Os conservadores da época defendiam que tudo era coisa de gente desajustada.
    O texto do Flávio me trouxe várias informações desconhecidas.Vejam só, participação de cientistas e do escritor Aldous Huxley.

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    1. O objetivo foi esclarecer a origem do termo e contextualizar com a arte psicodélica contemporânea.

      A história dos Beatles, The Doors e Pink Floyd, só para citar as referências mais populares, bem como a história da psicodelia brasileira dos Mutantes e outros músicos já foi contada inúmeras vezes na Internet.

      Como pretendo focar na psicodelia menos popular, inclusive trazendo conteúdo específico sobre bandas e músicas obscuras, faz bastante sentido informar sobre a parte da história menos conhecida e a abrangência ampla do termo nos dias atuais.

      Obrigado pela participação e pelo comentário.

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